
Uma descoberta inovadora divulgada nesta quarta-feira (11/6), pode transformar como compreendemos o comportamento alimentar e os transtornos relacionados à alimentação. Cientistas da Universidade do Sul da Califórnia identificaram um grupo específico de células cerebrais responsáveis por criar e armazenar memórias das refeições, os chamados “engramas de refeição”.
A pesquisa, conduzida em ratos de laboratório, mapeou como o cérebro registra as experiências alimentares, oferecendo pistas valiosas sobre obesidade, compulsão alimentar e até demência.
Esses engramas são formados por neurônios localizados no hipocampo ventral, região do cérebro ligada à memória e à navegação espacial. Segundo os pesquisadores, durante a alimentação, esses neurônios se tornam ativos e armazenam múltiplas informações, como onde, quando e o que foi consumido. Trata-se de um sofisticado “banco de dados biológico”, que organiza lembranças específicas de refeições.
Como o cérebro cria memórias de refeições
Conforme o estudo, a formação desses engramas ocorre durante breves pausas entre as mordidas. Nestes momentos, o cérebro examina o ambiente e integra diversos fluxos de informação, o que permite o registro detalhado da refeição. Essa descoberta foi possível graças a técnicas avançadas de neuroimagem, que ofereceram a primeira visão em tempo real da atividade cerebral relacionada à alimentação em roedores.
Embora o estudo tenha sido realizado em animais, os cientistas acreditam que o cérebro humano funcione de maneira semelhante.
Neurônios especializados e a conexão com a fome
Os neurônios de memória de refeição são distintos daqueles envolvidos em outros tipos de memória. Quando destruídos nos testes com ratos, os animais esqueceram onde a comida estava localizada, embora mantivessem memórias espaciais normais para outras tarefas. Isso indica a existência de um sistema cerebral especializado para informações relacionadas à alimentação.
Esses neurônios também se comunicam com o hipotálamo lateral, uma região ligada ao controle da fome e do apetite. Quando essa conexão foi bloqueada, os ratos comeram em excesso e não conseguiam se lembrar de onde haviam feito suas refeições, sugerindo que os engramas são essenciais para inibir o consumo exagerado.
Implicações para distúrbios alimentares e saúde mental
A descoberta abre novas perspectivas para compreender distúrbios alimentares em humanos. Pessoas com doenças que afetam a memória, como Alzheimer, podem esquecer que comeram e acabar fazendo várias refeições em sequência. Já o hábito comum de comer distraído — assistindo TV ou usando o celular — pode enfraquecer os engramas de refeição, levando o cérebro a não registrar adequadamente a experiência e contribuindo para o comer excessivo.
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Lembrar o que e quando você comeu é tão crucial para uma alimentação saudável quanto as próprias escolhas alimentares.
Caminhos para novos tratamentos
Além de ajudar a entender os mecanismos da alimentação compulsiva, os achados podem orientar novas abordagens clínicas para o tratamento da obesidade. Atualmente, estratégias para perda de peso focam principalmente na restrição calórica e na atividade física. A pesquisa sugere que reforçar a memória das refeições pode ser um componente igualmente importante.
O estudo reforça a importância de práticas como comer com atenção plena (mindful eating), que favorecem a consolidação de memórias alimentares fortes e completas, o que, por sua vez, pode ajudar o corpo a reconhecer quando está satisfeito e a evitar o excesso.