Crítica // Como treinar o seu dragão ★★★★★
O comprometimento com um universo bastante lúdico — movido a aulas de autodefesa e ao uso de escudos e demais engenhocas — tornou o diretor e roteirista Dean DeBlois indispensável ao êxito da transposição da franquia Como treinar o seu dragão para os moldes do live action. O canadense que, em 2002, trouxe ao mundo Lilo & Stitch, teve por cátedra a direção dos três longas em animação de Como treinar o seu dragão, nos anos de 2010, 2014 e 2019.
Na trama, o protagonista Soluço (Mason Thames) pouco tem de credenciais para se tornar uma celebridade instantânea, algo que nem almeja, mas que pode estar na sua trajetória na ilha de Berk projetada pela literatura da autora do livro de Cressida Cowell e que foi adaptado à perfeição para as telas de cinema. Um dragão teria matado a mãe de Soluço, fato que, por vezes, o pai dele — o temido Stoico (Gerard Butler) — faz questão de lembrar. A montaria, a superação de um desequilibro social e uma vontade de aprendizagem são algumas qualidades alinhadas para que Soluço impressione Astrid (Nico Parker), uma pretendente inicialmente bem dispersiva.
Uma conexão mágica, inesperada entre as tradições viking, traz o robusto e diferenciado dragão Banguela para o convívio com Soluço. Os voos desenvolvidos entre a dupla trazem impecável ponto de ligação com os espectadores. Alvo de animosidade milenar, o dragão do tipo Fúria da Noite vai puxar muito na trama comandada pelo mesmo roteirista de O Gato de Botas (2011). Depois de destaque na direção de fotografia de filmes como Mogli — O menino lobo (2016) e As panteras (2019), Bill Pope traz um reforço de imagens encantadoras ao novo filme.
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A empatia é uma das chaves para a relação entre Soluço e Banguela. Eles têm em comum a chave do medo, a falta de compreensão de seus potenciais, um pendor natural para a bondade e um jeitão destrambelhado. O filme já tem duas cenas antológicas: a da divisão de comida e a derrubada do espírito arredio do dragão, incapaz de permitir um sequer toque. Junto com uma carga equilibrada de comédia e aventura, o filme vale por trazer surpresas na trama que embute ciúmes, treinamentos empolgantes em uma arena e cargas de decepção, sem contar do apreço pelo ensinamento propagado seja de forma oral ou ainda, sistematizado, na leitura de livros.